Um aplauso de reconhecimento a experiência do MST que esta semana realiza seu 6° Congresso Nacional do MST e ainda celebra os 30 anos de luta e resistência do movimento.
O movimento que vem defendendo há tanto anos sua autonomia e a reforma agrária como um dos principais movimentos populares brasileiros. Trata-se de movimento legítimo que representa parte de um Brasil esquecido e desamparado. O movimento merece esse aplauso e muito mais!
Abaixo o artigo publicado no jornal O Globo do colunista Alexandre Conceição:
Reforma agrária popular é urgente
A realização do 6° Congresso Nacional do MST, esta semana, em Brasília, coincide com a celebração dos 30 anos de luta e resistência do movimento.
Nessas três décadas, através da luta organizada, mais de 350 mil famílias conquistaram o direito de plantar e produzir alimentos. Temos orgulho de ter alfabetizado mais de 50 mil pessoas, juntamente com a defesa intransigente para a permanência das escolas do campo. Transformando o campo em um lugar digno, acreditamos que contribuímos para transformar também a desigual sociedade brasileira, combatendo a fome e a miséria.
Porém, novos desafios se colocam para a agricultura brasileira. A hegemonia de empresas transnacionais, associadas ao capital financeiro, não apenas tem desnacionalizado a propriedade da terra e das empresas agrícolas, como altera significativamente a configuração do meio rural.
A perversidade deste modelo chamado de “agronegócio” está no abandono da produção de alimentos, utilizando os bens da natureza para a produção de combustíveis e celulose. De 1990 para 2011, por exemplo, as áreas plantadas com alimentos como o arroz, feijão, mandioca e trigo declinaram, respectivamente, 31%, 26%, 11% e 35%. Já as áreas plantadas de cana e soja, aumentaram 122% e 107%. O impacto disso se reflete no aumento da importação de alimentos — nossos feijão e arroz vêm da China.
O agronegócio traz ainda enormes contradições e consequências à sociedade brasileira: a produção em monocultura e em larga escala destrói a biodiversidade e a vegetação local, pois sua matriz produtiva se baseia no uso intensivo de agrotóxico. O Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, tendo duas dezenas de produtos proibidos na União Europeia.
Com isso, muda-se também a luta pela terra. Se a produção de alimentos não é a prioridade da agricultura, perde-se a perspectiva da reforma agrária clássica, que consistia na democratização da terra, com a criação de um mercado interno, e na redução do custo de vida nas cidades, estimulando o desenvolvimento industrial.
Por isso, nosso 6º Congresso apresentará para a sociedade brasileira um Programa Agrário, defendendo a realização de uma Reforma Agrária Popular. Um programa não apenas para os camponeses, mas como uma alternativa aos problemas estruturais do campo e de toda a sociedade brasileira, visando a transformar a agricultura e colocá-la a serviço de toda população.
A Reforma Agrária Popular consiste na democratização da terra, prioriza a produção de alimentos saudáveis, através da agroecologia, procura desenvolver sistemas de agroindústrias no campo e sob o controle dos camponeses. Isso possibilita agregar valor aos produtos, gerando mais renda e novos postos de trabalho, sobretudo à juventude. Ainda, busca garantir condições e direitos básicos, como saúde, educação, acesso a tecnologias, cultura e lazer a toda a população do campo.
Para isso, conclamamos toda sociedade brasileira para lutar, construir a reforma agrária popular.
O artigo acima foi publicado no jornal O Globo:
http://oglobo.globo.com/opiniao/reforma-agraria-popular-urgente-11565408